Fonte: AutoData Editora
São Paulo – A poucos meses de iniciar operação no Brasil com o desembarque do SUV híbrido Haval H6, previsto para o início do ano que vem, a GWM, Great Wall Motors, não só é favorável ao imposto zero sobre veículos eletrificados importados como considera que o benefício é fundamental para a sua instalação no Brasil, mesmo com projeto de iniciar a produção na antiga fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, SP, a partir de 2024.
Medida polêmica que divide opiniões dos que fabricam localmente e dos que trazem veículos de fora, para o diretor de relações institucionais, governamentais e questões administrativas da GWM Brasil, Pedro Betancourt, a isenção é fator primordial para que o País tenha contato com novos sistemas de propulsão e traga avanços ao mercado automotivo.
O executivo assinalou, ainda, que a GWM não teria tomado a decisão de se instalar no Brasil se não houvesse um ambiente amigável às novas tecnologias: “Ainda há muito a ser feito, mas o futuro com a eletrificação é um fenômeno irreversível e inexorável. Assim como quando o automóvel substituiu o cavalo no Sul. Ou no Nordeste, com a motocicleta recentemente tendo ocupado o lugar do jegue. Sempre há quem esperneie, mas é um movimento sem volta”.
Betancourt classificou como essencial a isenção do imposto de importação, amparada por resolução do Mercosul desde 2016 e renovada em dezembro de 2021 até 2028. Também é essencial o projeto de lei 403/2022 que tramita no Senado, em paralelo, e propõe a isenção do tributo sobre modelos híbridos e elétricos até 2025, o que estenderia a abrangência da medida: “Aplaudimos de pé essa proposta. Que poderia, inclusive, valer até pelo menos 2028”
Segundo o diretor não é incoerente desonerar a entrada de importados pois “é uma fantasia considerar que eles tirarão o lugar de produção”.
Adicionalmente, ao facilitar a entrada de peças de automóveis e ferramentas, que tiveram em maio deste ano o tributo zerado a partir de decreto do Ministério da Economia até 31 de dezembro de 2025, também se contribui para a montagem de veículos no Brasil:
“O volume que um veículo ocupa para ser embarcado é imenso, são 16 metros cúbicos. Nesse mesmo espaço você traz partes e peças para 25 carros, o que vale muito mais a pena. A não ser que se esteja em um nicho muito pequeno”.
Enfático, Betancourt afirmou:
“Quero que continue com imposto zero para híbridos e elétricos, pois é um sinal sobre a liberalização do mercado brasileiro. Nos últimos quarenta, cinquenta anos o Brasil tem protegido o setor. Eu mesmo protegi o setor. Defendi alíquota de 35% de imposto de importação. E até mais, 40%, 50% de tarifa de importação. Mas eu errei. Estava enganado”. Pedro Betancourt
Ele avaliou que o tributo para encarecer o produto importado não traz benefícios ao mercado brasileiro: “O protecionismo não funciona. Nós não melhoramos a oferta dos nossos carros nem aumentamos a produtividade. Veja o que aconteceu com o México: tem acordos comerciais com meio mundo, importa o que quiser e faz mais carros que o Brasil. Claro: ele tem um vizinho que compra muito, mas isso é uma conjuntura”.
Paralisia logística – A despeito da questão tributária o cronograma da GWM no Brasil tem sofrido alguns atrasos por questões de cunho logístico derivados dos impactos da guerra na Ucrânia e do controle da covid na China, o que gerou engarrafamento global de mercadorias e navios que levavam a bordo maquinários e equipamentos – e chegou a quintuplicar os preços, segundo o executivo. Diante do cenário ele reconhece a possibilidade de a estreia da marca no Brasil ficar para o início de 2023:
“Imponderáveis existem em quaisquer circunstâncias. Hoje acho difícil, mas não impossível. É uma questão complexa que foge à nossa alçada. Assim como ocorre com outras empresas também. Continuamos atrelados com plano agressivo de lançamento, gostaríamos de ter no último trimestre de 2022 algum produto lançado. Mas talvez haja um atraso na operação manufatureira de três ou quatro meses”. Pedro Betancourt
Quanto aos demais prazos ele não vê possibilidade de atraso: “Uma vez que você começa, com um pouco de planejamento, se não houver atraso de um ano, mas de meses, como falamos, num período de dois ou três anos consegue-se ajustar. O que não é difícil. Ganha uma semana, aqui outra ali”.
Para Betancourt o pior já passou. Ele confessou que se preocupou em 2021, quando questões burocráticas quase impediram a conclusão da primeira parte do negócio, que foi o pagamento à Mercedes-Benz.
Plano traçado e seguido à risca – Betancourt assegurou que não há mudanças com relação aos planos de atingir pelo menos 50% de nacionalização até 2026, assim como acerca do investimento de R$ 10 bilhões até 2032: “Estabelecer uma montadora não é como montar uma padaria, pois requeremos estrutura de distribuição. Não temos nenhuma pressa de sair e pegar o primeiro aventureiro.”
Ele contou que a GWM está trabalhando com os maiores e melhores grupos do País para estabelecer uma rede sólida que permita atendimento ao consumidor da maneira mais respeitosa: “Depois é preciso estabelecer assistência para manter relação fluida com essas distribuidoras. Estamos compondo nosso quadro de funcionários. Semana sim semana não anunciamos novos executivos”.
A experiência das newcommers mostra que um primeiro ciclo é composto só por trabalho e organização que demora mais ou menos dez anos, apontou o diretor da GWM. Posteriormente, há outro ciclo de dez anos, que é o período de consolidação, quando o mercado passa a apreciar seu produto. Devido à mudança tecnológica frente ao acesso imediato à informação, no entanto, ele aposta que esses períodos serão abreviados.
“O que outras empresas demoraram vinte anos para estabelecer eu acredito que demoraremos a metade. O objetivo não é só chegar ao outro lado da corda e ter uma fatia significativa de mercado. Tem que ter uma meta, mas não se chega lá se não for cumprido o passo a passo num processo muito calibrado. É como andar na corda bamba.” Pedro Betancourt
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